Publicado em 11 de junho de 2022
Tags: Direito no Alvo, Repositório Institucional
A humanidade tem vivido e celebrado momentos memoráveis, incríveis, significativos e históricos com o progresso e avanços tecnológicos e as grandes descobertas salutares para a vida em diversas áreas da ciência. Na medicina, por exemplo, com a aprovação da vacina contra o vírus Ebola e a Covid-19; há também a entrega do Prêmio Nobel pela “descoberta de receptores na pele que sentem a temperatura e o toque”. Na física, pela compreensão de “sistemas físicos complexos ligados às mudanças climáticas”, etc.
Observa-se que, apesar desses avanços científicos que revelam a capacidade cognitiva do atual “homo sapiens” em sua fase inovadora do “homo saber” e do “homo sacer”, ainda ocorrem situações que desnaturam a inteligência daquele que é visto, dentre os seres vivos, como ser racional, mas que, infelizmente, por seus atos irracionais e perturbadores, fatores da morte e da destruição, mergulha na loucura sem precedente, causando crimes indizíveis e inimagináveis pela crueldade consciente do seu inconsciente consequente, fazendo dele um “homo demens“, ou seja, um ser demente e deprimente.
Percebe-se, nesse caso, como a demência conduz o agir comportamental patológico do ser “supostamente racional” para trasladar a teologia da substituição, cujo ensinamento se refere à Igreja cristã como substituição de Israel e o cumprimento das promessas bíblicas nela e não em Israel para a teoria da substituição, relativa à “ideia de que brancos estariam sendo substituídos por outras minorias nos EUA e em outros países”. Tal afirmação é geradora de discurso de ódio racial e de intolerância em uma sociedade pluricultural que prega o respeito às diferenças, aos direitos humanos e à democracia participativa.
Enquanto a teologia da substituição prega o cumprimento da Aliança selada entre Deus e o povo de Israel pela Igreja cristã como sinal de um “novo céu e uma nova terra” visto em uma visão da universalidade da própria Igreja, congregando todos os povos, línguas e culturas, pela força e ação do Espírito Santo, em uma só família, uma comunidade crente daqueles que amam incondicionalmente por ter sido amados por Aquele que se entregou por amor para com toda a humanidade, a teoria da substituição prega o ódio entre os povos, raças e culturas, justificando-se, portanto, a eliminação de outras pessoas, sobretudo, dos negros, migrantes latino-americanos e asiáticos nos Estados Unidos.
Não se pode olvidar da disseminação desta teoria em outros países e crescimento do discurso de ódio, gerando matanças seletivas dos grupos acima mencionados. O tiroteio em massa com motivação racial que ocorreu no sábado 14 de maio de 2022 na cidade de Buffalo no Estado norte americano de Nova Iorque (York), tirando a vida de 10 negros que faziam compras nos Estados Unidos expõe a tendência crescente do terrorismo da supremacia branca em uma sociedade marcada pelo segregacionismo combatido por grandes ativistas negros como William Edward Burghardt Du Bois (1868-1963), Rosa Louise Parks (1913-2005), Martin Luther King Jr (1929-1968) Shirley Chisholm (1924-2005), Huey Newton (1942-2005) e outros assinados por lutar contra a desigualdade a discriminação racial.
Vale destacar que o assassino Payton S. Gendron, um jovem branco de 18 anos da comunidade de Nova York de Conklin percorreu mais de 350 Km para realizar deliberadamente em uma comunidade cuja maioria é negra seu ataque hediondo. Tal atitude de atirador peregrino revela como as estruturas de ódio e ideologias racistas estão profundamente enraizadas na sociedade americana.
É espantoso perceber que muitos crimes de motivação racial são cometidos tantos nos Estados como no Brasil e, sem dúvida, em outros cantos do mundo com a justificativa assentada na luta da supremacia branca contra os imigrantes e minorias em nome da teoria da substituição
Indaga-se até quando os Estados Unidos, em primeiro lugar com a cultura de armar o povo, devem continuar sob o choque de massacres de inocentes, de crimes hediondos fruto de ódio incurável, desencadeando entre povos multiculturais chamados à convivência social e ao banimento das tensões raciais provocadas pelos adeptos da “supremacia branca”.
Ora, a teologia da substituição ou supersessionismo, ao focar sobre a substituição de Israel pela Igreja Cristã, torna-se também exclusiva, mas não passa de uma ideologia nacionalista excludente com relação aos outros povos, apenas focaliza-se a mensagem religiosa. O supersessionismo não acarreta o sionismo, ou seja, em nenhum momento é visto como desencadeador de ódio, de maldade e de segregação. Pelo contrário, ela é um desafio de integração no respeito às diferenças enriquecedoras apesar de estarmos em um mundo competitivo, de autoafirmação e autodeterminação dos povos.
Matar em nome de uma ideologia supramacista é mergulhar no obscurantismo, reflexo de uma celeuma psicótica desenvolvida em uma mente psicopata.
É hilariante pensar na substituição de uma raça por outra ou de um povo por outros no século XXI em que o mundo se tornou uma aldeia com evidentes interconexões e interdependências entre nações e, consequentemente, entre pessoas chamadas a tecer relações amistosas, harmoniosas, de conformidade com o espírito da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) para promover a manutenção da paz e da segurança internacionais.
Tanto a teologia da substituição como a teoria da substituição, ambas com o pano de fundo de exclusão, devem se render ao princípio de solidariedade em correlação com a ética da responsabilidade de acordo com o pensamento de Hans Jonas e de Leonardo Boff quanto ao Saber Cuidar, a ética do humano. As duas ideologias são faces da mesma moeda, portanto, inseparáveis para a (re) construção de uma sociedade fraturada e dilacerada pelo ódio, pela vingança e que precisa ser cada vez mais fraterna, solidária, igualitária e multicultural.
O discurso do ódio não é inato, é ensinado e adotado para ser colocado em prática. Por que, então, não ensinar o discurso do amor, de tolerância e respeito das diferenças culturais?
Para Nelson Mandela, “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta.” (Livro “LongWalk to Freedom”, 1995).
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