Publicado em 03 de abril de 2023
Tags: Apoio ao discente, Internacionalização
Por que decidiu pelo Mestrado em Portugal?
R: Dos familiares que me antecederam, me graduar já era uma grande conquista, e vê-los felizes com cada realização que eu obtinha era meu combustível para alcançar feitos ainda mais distantes da nossa realidade. Tive poucos exemplos de pessoas do meu convívio que puderam realizar um curso universitário, e, menos ainda, que puderam estudar fora do Brasil. Foram os relatos dessas pessoas que despertaram em mim esse desejo. Portugal era a opção mais econômica e menos burocrática, e, ainda assim, ofertando um nível de ensino que considero alto, tendo em vista que a Universidade de Lisboa é a maior, e talvez, a melhor de Portugal, já tendo figurado, na última década, entre as 300 melhores universidades do mundo – quando das pesquisas de ranking que realizei.
Conte um pouco mais sobre a sua experiência como aluno da Universidade de Lisboa.
R: É uma rotina desafiante, porém, extremamente prazerosa. Tenho contato com alunos de diversos lugares do mundo, e aulas com professores que são referência tanto na europa como em outros países, o que enriquece o intercâmbio cultural e científico. Mas tamanho privilégio custa muitas horas de dedicação aos estudos, já que praticamente em todas as disciplinas é preciso apresentar casos, participar de debates e elaborar um trabalho final. Há contato constante com casos e doutrinas espanholas, italianas ou francesas – mesmo não sendo fluente em nenhuma dessas línguas, ou sequer ter lido, até aqui, alguma obra francesa. Contudo, também resta tempo para ir em eventos ou palestras, inclusive, com a participação de juristas relevantes no Brasil – como Flávio Tartuce, Gilmar Mendes, Kakay e outros -, bem como conhecer lugares históricos ou turísticos do país.
Qual foi a temática da sua linha de pesquisa?
De onde veio a inspiração? Desde a graduação tenho estudado as problemáticas do Direito Comercial Internacional enquanto substrato do Direito Internacional Privado, me preocupando especificamente com suas questões contratuais. Sob a orientação do Prof. Sérgio Milagre, pude desenvolver um estudo sobre a internacionalidade contratual e o princípio da proximidade à luz do direito brasileiro, o que, mais tarde, se tornou o meu trabalho de conclusão de curso. A Universidade de Lisboa não exige a atribuição imediata de um tema de pesquisa, o qual pode ser proposto ao final do primeiro ano letivo – momento que estou a alcançar. Dessa forma, permaneci direcionando os meus estudos para as relações contratuais internacionais de natureza privada, e, em cada uma das quatro disciplinas que estou matriculado, preciso desenvolver relatórios relacionados com a área – com a extensão e dificuldades de uma monografia. Para não ficarmos sem respostas, confesso que meu trabalho final deve propor a rediscussão de algumas das regras sobre responsabilização ou defeitos dos negócios jurídicos em face das relações contratuais comerciais internacionais que, necessariamente, tenham a participação de algum tipo de inteligência artificial.
Quais foram as dificuldades na adaptação em outro país?
R: A saudade da família e amigos certamente vem em primeiro lugar. Creio que mudar de país, e no meu caso sozinho, é como nascer novamente. Adquirimos novos documentos e novos costumes, conhecemos novas pessoas e novos lugares. Por vezes é um processo solitário, porém, muito bonito e necessário ao amadurecimento humano, já que você passa a se conhecer melhor a cada instante. Como diria uma colega de curso: é uma experiência antropológica. Outra dificuldade certamente é o clima durante o inverno. Não vivenciei temperaturas negativas, mas 7 ºC, aqui, se parecem tranquilamente com – 10 ºC. Não há café que ajude a aquecer a alma.
Quais são as considerações finais e a mensagem que você deixa para quem sonha em estudar no exterior?
R: Acredite em si. Por mais que possa parecer um sonho distante, ninguém pode realizá-lo por você – e mesmo que pudesse, o que você teria vivido por isso? No fim das contas, somos os únicos representantes dos nossos sonhos.
Prezado ex-aluno, deseja tecer alguma lembrança sobre a sua graduação no Brasil?
R: Sempre me lembro das pessoas que me inspiraram a estar, hoje, cursando mestrado em uma universidade estrangeira. Não gostaria de ser injusto e esquecer de tantos nomes, mas preciso mencionar duas pessoas em especial: o Prof. Renato Gibson e Profa. Lidiane Reis. Renato foi um dos exemplos que tive sobre alguém que ousou ir para outro país se qualificar. Me recordo que dedicou uma tarde da sua rotina de trabalhos para me receber em seu escritório, em alguma segunda-feira de agosto de 2020, e me aconselhar sobre essa importante decisão em minha vida. Eu ainda estava no oitavo período do curso, e aquela conversa foi extremamente importante para eu ter certeza do que desejava buscar. Lidiane foi a primeira pessoa que me incentivou a realizar escritas científicas, e, se não fossem os seus estímulos, muito provavelmente eu sequer desejaria realizar o mestrado logo após me formar, ou, pior ainda, não me permitir descobrir um outro sonho: retornar para a FDCL como professor, retribuindo tudo o que um dia fizeram por mim. Exemplos assim demonstram a grandeza do papel dos profissionais e da própria instituição, indo além do que é possível ser feito em sala de aula.